Muitos de nós gostaríamos que os políticos fossem anjos. Se assim
fosse, estariam imunizados de todas as situações e oportunidades que não
promovem o bem comum e a prática da bondade. Mas os políticos, assim
como cada um de nós, não são anjos e sim, humanos, também não perfeitos.
A política não é um espaço para a ação de anjos, mas o espaço de
disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A
disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam
sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos
quando se propõem a representar os interesses da população.
As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos
movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir
das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e
negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em
pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento
histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é
inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos
interesses coletivos.
As agremiações partidárias (partidos) expressam e materializam os
projetos de sociedade que estão em disputa nas cidades de nosso país.
Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de
como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de
como construir oportunidades de desenvolvimento das nossas cidades e da
própria nação. Há então que se discernir a diferença entre votar em
pessoas ou votar em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”,
traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, mas tem consequências”. Por
isso mesmo, é possível contemporizar as posições e atitudes pessoais
dos candidatos com os projetos que os mesmos representam, observadas as
circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem.
Os candidatos não representam a si próprios, mas representam
interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez fosse melhor sermos
governados por anjos, seres sobrenaturais imunes a qualquer interesse
mundano. Como não é possível, cabe a cada um e cada uma avaliar o
projeto com o qual cada um dos candidatos está comprometido. Neste
projeto, o compromisso com a vida humana, com a sociedade e com as
virtudes é o bem maior que deve ser resguardado, pelos candidatos e pela
gente.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
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