Quando as jabuticabas ficavam como mel, dizia Narizinho, as vespas escolhiam as melhores frutas, furavam-nas com o ferrão, enfiavam meio corpo dentro e deixavam-se ficar muito quietinhas, sugando até caírem de bêbadas”, contou Monteiro Lobato às crianças em 1931. Não só a vespa, o chipanzé evita comer algumas frutas maduras para depois usufruir da sua fermentação, e o elefante intoxicado pela amarula, como todo bêbado, pode se tornar muito destrutivo. O homem é mais atraído pelo álcool que a vespa, o chipanzé ou o elefante. ‘Substância rara guardada escondida na natureza’ (Brillat-Savarin,1848), sempre se deu um jeito de obtê-la. O esquimó fermentava a gordura de foca, o tupinambá mascava a mandioca. Toda fauna e flora foi matéria-prima, desde o mel de abelha e leite de égua, até a casca de batata e o esterco fresco. Onde havia sociedade estava o álcool, presença universal como a vida diurna, linguagem, tabu de incesto, guerra e religiosidade. Sua valorização foi sempre privilegiada, frequentemente com status divino: entusiasmo (en-theo-asmos), ‘estar com deus’, significava originalmente ‘beber álcool’ e espírito tem o sentido de ‘álcool destilado’. A civilização inventou o álcool e a recíproca é verdadeira. Houve muitas culturas sem roda, sem escrita, sem fogo, poucas sem álcool. A agricultura brotou do cultivo da cevada e o pão cresceu da levedura da cerveja respingada na farinha. Há quem sugira que as palavras germânicas para ‘pão’ (A. brod; I. bread, Hol. brood) derivem do Ger. brauen, ‘fazer cerveja’. Beber parece intrínseco à natureza humana. O fim do nomadismo; as cidades brotaram em áreas irrigadas a produtoras de cereais cuja finalidade era ser tanto bebida como comida. A cerâmica moldou-se para armazenar a cevada fermentada e, milênios depois, foi a cervejaria que deu início à Revolução Industrial.
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